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Acho que não foi surpresa para ninguém este regresso de Jorge Jesus ao Benfica. Depois de uma saída atribulada, de muitos bate-bocas públicos e de algumas idas infundadas ao Tribunal do Trabalho, JJ e Luís Filipe Vieira rapidamente fizeram as pazes e retomaram uma bela história de amor, ainda que pontuada primeiro pelo secretismo e depois pela distância. Qual Romeu e Julieta, suspiravam um pelo outro dos lados opostos da Segunda Circular até que o Ataque a Alcochete lhes deu carta branca de tornar público o romance que apenas a Arábia e o Brasil (e muitos milhões. E a opinião pública) separaram durante uns anos.
Era mais do que óbvio para o comum observador, mas ainda mais para aqueles que como nós, meus amigos, vivem, sentem, choram e sonham o Benfica, que este regresso não aconteceu mais cedo pelo inesperado sucesso de Bruno Lage. Quando Luís Filipe Vieira deixou de ver luzes e decidiu – com alguns meses de atraso e depois de os centrais demonstrarem o seu descontentamento com dois auto-golos – que o ciclo de Rui Vitória tinha chegado ao fim, a ideia já estava plantada na sua cabeça. Aquele campeonato estava perdido, a Taça já tinha ficado lá atrás, o plantel iria ser delapidado com as saídas dos flop Ferreyra e Castillo, Jonas já demonstrava sinais de que não conseguia fazer 90 minutos ao nível endeusado a que nos tínhamos habituado e não havia um único reforço em termos que se quisesse enfiar no lodo de ideias que era o futebol do Benfica. Mais ainda, o seu grande amor não poderia sair da Arábia Saudita naquele momento sem uma grande perda financeira – e todos sabemos o quanto Luís Filipe Vieira preza as finanças dos seus amigos (vide recentemente as declarações sobre o possível retorno de David Luiz, nos quais o nosso Presidente, sempre atento, vem relembrar a nação benfiquista que o pobre rapaz vai ser pai e por isso tem é que ficar onde está a ganhar dinheiro).
E o que vamos fazer então? Enfia-se para lá o treinador da equipa B a cumprir calendário, até que em Junho podemos anunciar o regresso de Jorge Jesus, qual D. Sebastião aparecido num dia de nevoeiro, que traz o rolo compressor e o Ferrari e um contentor de jogadores sul-americanos que jogarão uma época inteira, quer joguem bem quer joguem mal (lembram-se do Emerson da Conceição? Eu não esqueço o Emerson da Conceição, meus amigos. Ainda hoje não sei se a minha úlcera foi provocada por excesso de Red Bull ou pelo stress de o ver jogar).
Ora pois que o plano sai furado e tudo corre bem a Bruno Lage. E quando se diz que tudo corre bem, basta relembrar que o melhor marcador do campeonato foi nada mais nada menos que Haris Seferovic, que todos sabemos que até então (e daí para a frente) demonstrava uma veia goleadora semelhante à de um poste de baliza. Ou de uma bancada. Dois sítios onde ele acerta com mais frequência do que a própria baliza. E Bruno Lage consegue levar um Benfica com 7 pontos de atraso para o rival directo Futebol Clube do Porto à conquista do título revolucionando o plantel não com reforços, nem sequer sul americanos, mas pasmem-se, com os jovens formados no clube. Com a canalha. Com aqueles que, segundo o Salvador da Pátria Jorge Jesus, teriam que nascer 10 vezes antes de ter lugar na equipa principal do Benfica. Um super João Félix finta um empréstimo ao Marítimo para onde ia ser recambiado e torna-se a sensação do campeonato. Ferro e Florentino tornam-se titulares indiscutíveis. E muda-se completamente o paradigma – afinal os reforços não são necessários – estão todos no Seixal. Um campeonato ganho e um potencial regresso de Jorge Jesus vai pelo cano abaixo, deixando o Presidente e JJ de coração partido e com um Atlântico pelo meio.
E tudo estava bem, meus amigos. Bruno Lage era Rei no lado mais bonito da Segunda Circular e no Tugão, Jorge Jesus era Rei no Brasil, conquistando o Brasileirão e a Libertadores, cantava-se Mister, Mister por todo lado, abriam-se garrafas de champanhe, tudo era uma festa. Até a CMTV falava bem de todos, vejam lá. Mas não tardou a tudo mudar, pelo menos do lado do Benfica. Os jogadores assumiram uma veste tão “último-ano-rui-vitoriano” que era assustador. Jogava-se mal, perdiam-se jogos com grandes, empatavam-se jogos com pequenos. Mete-se uma pandemia pelo meio e zás, Bruno Lage passa de bestial a besta, Benfica passa de campeão quase garantido a “vamos lá ver se não vamos perder o segundo lugar para o Sporting” e abre-se o caminho para Jorge Jesus.
Meus amigos, parece que consigo ver a cara de Luís Filipe Vieira quando percebeu que podia fazer o seu grande amor regressar. Era como uma personagem de uma série de manga, com estrelas nos olhos e o coração a palpitar tão forte que se ouvia do outro lado da circular. Até o Frederico Varandas deve ter vindo socorrê-lo, porque uma vez médico sempre médico e juramento de Hipócrates e o caraças. Ouço, também, o seu riso descontrolado quando Bruno Lage diz na flash interview após o jogo com o Marítimo que sente que a equipa está com ele e 5 minutos depois está o Presidente a despedi-lo em conferência de imprensa. Uma beleza que foi, meus amigos.
E o resto é história. O Presidente transfigura-se em Pedro Álvares Cabral e cruza o oceano para trazer com ele o ouro do Brasil. Anuncia-se a contratação, no que teria sido um dia épico não fosse a Cristina Ferreira ter-se lembrado de usar o mesmo dia para anunciar o seu regresso à TVI. E ainda diz ela que é benfiquista. Enfim.
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Meus amigos, esperem pela parte 2 desta crónica onde analisarei o que será do actual plantel do Benfica com Jorge Jesus ao comando e o que podemos esperar no que toca a reforços. Conto convosco!
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